sábado, março 11, 2006
um homem, uma mulher
Só temos idéias deturpadas.
Não conhecemos nossos ícones, nossa história, nós.
O burro do João Gordo, em entrevista ao não menos mais inteligente Ney Matogrosso, comentou que ser Carmen Miranda é um fato negativo. Quando ouvimos
Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo,
versos iniciais de Aquarela, criamos a visão mental da Faber-Castell e sua interpretação lápis-de-cor pruma música sobre a inocência da despedida.
Ganhei a mais extensa biografia já escrita sobre um brasileiro, Carmen, de Ruy Castro. Ainda nem cheguei perto dos fatos ali descritos, mas aproveitei para ir numa sessão de autógrafos e ouvi mais sobre a importância desta mulher para a cultura mundial. Não só pela sua performance e visual peculiar, Carmen Miranda é considerada proprietária de uma voz tão impactante e singular quanto Nina Simone.
Quando escuto o nome Toquinho surgem apenas ecos de "sei quem é mas não sei o que fez". E vê-lo ao vivo me deixou indignado com minha ignorância musical. O cara viveu com João Gilberto, bebeu com Tom Jobim, fez show com Vinícios de Morais e compôs algumas das músicas mais belas e singelas da Bossa Nova.
E, como esse povo da MPB, o cara sabe fazer um show. Todas as canções eram familiares. Só não sabia que eram dele.
Não temos memória. Não quero defender a imagem da garota, nem fazer discurso sobre o som do outro rapaz. Só tô com vergonha de desconhecer personagens tão importantes e distantes de nossa cultura popular brasileira.
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4 comentários:
Tive sensação semelhante quando li pela primeira vez "O Anjo Pornográfico", sobre Nélson Rodrigues, também do Rui Castro.
A começar pela narrativa -invejável-, o livro é fantástico como não poderia deixar de ser a história (em muitos trechos comoventes) do reacionário escritor/dramaturgo.
Ainda há muito para saber (especialmente sobre esses personagens da cultura brasileira). O primeiro passo foi dado, a consciência. O resto é leitura e, em alguns casos, ouvido.
bjo!
ops, comovente.. maldita pressa pra digitar... rs
André, acho que você entendeu a questão da Carmem Miranda na entrevista do Ney Matogrosso um pouquinho errado. A discussão ali tinha nascido porque quando o Secos e Molhados (banda importantíssima na mpb) foi ao México fazer uma apresentação e acabou sendo convidada para ir aos Estados Unidos tornar-se a nova "sensação". Então o Ney Matogrosso disse que não deseja se tornar uma nova Carmem Miranda, conhecida no estrangeiro e deixada de lado no Brasil. Entendo essa visão infelizmente. E você no resto do seu post explicou exatamente o porque disso acontecer.
Falta na nossa nação o sentimento de unidade. A gente não tem heróis. Na verdade temos a união e os heróis na época de Copa do Mundo, mas essa é uma outra discussão.
Semana passada eu estava conversando aqui no tribunal exatamente sobre isso. Sobre a idéia de que todos os heróis que tivemos (tipo Tiradentes) foram abafados pela ditadura. Os músicos e artistas (não tão menos heróis que os inconfidentes) foram sufocados pela ditadura. Âmbitos da cultura brasileira deixaram de ser discutidos em casa por medo. E infelizmente, toda uma geração de crianças cresceu com os pais recém saídos desse período de medo, completamente esquecidos dos hábitos que tinham antes.
Bom, poderia continuar escrevendo por horas sobre isso, mas enfim, tenho que voltar pro trabalho... hehe...
De qualquer forma acho que a gente precisa conhecer mais, ler mais, ouvir mais.
Com todo respeito aos comentários da G. aí em cima, mas, adorei o "Burro do João Gordo", ele é msm, não só por este que foi um texto roteirizado, mas por outros que ele fez, comentários depreciativos e preconceituosos. Era bom se ele gostasse de ouvir qquer coisa, do msm jeito que gosta de falar!
Mas, pena que só conheçamos a história da Carmen Miranda do jeito que foi contada. Valeu pela indicação de livro, é uma boa fonte, o autor é bom, então vou conferir.
Um abração!
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