sexta-feira, novembro 26, 2010

Esmagando preceitos


Billy Corgan apresentou um Smashing atual.
E sua abóbora está mais amassada que nunca; jogada, distorcida, suja e estranha.
Lembra um tanto nosso Mutantes. Enquanto banda, após a saída de membros, mudou de rumo e perseguiu o progressivo, experimental. E o Smashing atual é Billy questionando rock, experimentando, flertando com o eletrônico e com o progressivo, com músicas de 15 minutos com poucas palavras e muita ação.
Enquanto o Smashing ‘90 apresentavam baladas, canções com músicas de fazer o público inteiro cantar junto, o que ele(s) quer(em) agora é extrair o máximo de um acorde tocado em uma guitarra estourada refletindo seu som pelo parque.

E nesse caminho existem diversas perguntas que merecem ser jogadas ao ar, sem a mínima necessidade de respostas:
Se uma música, enquanto obra de arte, é criada, até que ponto ela está pronta? Cada execução de uma canção é uma interpretação? Pode parar tudo e mandar a porra funcionar se está com problemas técnicos? Se um artista deve levar em consideração onde está para sua performance? Deve alterar seu show e pensamento para saciar os desejos de milhares de pessoas que esperam para cantar aquele hit de 15 anos atrás? Ele realmente acha que Manu Chao é grande por aqui ou fez piada porque ouviu uma música no caminho do PlayCenter? Ou pior, achou que a cara de quem não entendeu nada do show é cara de quem curte o Clandestino?
Talvez por isso a decepção em diversos reviews, tuites e comentários, pessoas que saíram antes do final. As pessoas esperavam isso:

Em outro ponto de São Paulo, como apontado pelo Rafa Losso, Lou Reed fez algo semelhante, ao mesmo tempo diferente. Reed não continuou com o Velvet Underground para reler cada música já composta pela banda, dando uma nova visão às composições já eternizadas. Ele partiu solo.
(o que não impediu que pessoas não esperassem apenas hits e saíssem desencantadas do show)

Em suma, na arte não existe o não pode. Existe apenas o feito. E Smashing mostrou aos freaks do Terra que a ideia não é cantar junto, nem repetir o passado. E pouco importa o tempo. Resta a essência, a música, a experiência. Pouco importa se ela é Pumpkin, Corgan ou Reed.

ps: Mike Byrne, o novo baterista da banda, tem 20 (!) anos. Praticamente nasceu depois da banda existir!

sexta-feira, junho 11, 2010

Perdeu, mané!


Lost perdeu a graça muito antes de acabar.
Lost criou personagens cativantes e carismáticos: Rousseau, Desmond, Hurley, Vincent, Penelope. Outros cheios de mistérios e ódio: Os Outros, Sayid, Benjamin Linus, The DHARMA Initiative. Teve cenas interessantes, conceitos instigantes e provocantes.
Seu maior mérito foi criar mistérios. E, o pior defeito, explicá-los.
Temos o Lostzilla como exemplo.
O que atacou o piloto no primeiro episódio? Era um monstro? Seria uma máquina? "Sistema de proteção"? As dúvidas faziam a imaginação rolar solto. Salas de chats lotadas enquanto páginas e páginas de fóruns refletiam sobre. Mas aí eles responderam: era uma fumaça negra.

Virou piada: “fumacinha preta”, “nuvenzinha do mal” e até “pum do Locke”. Jogaram a oportunidade de criar um dos melhores vilões da televisão no ar. Literalmente.
Mesmo assim, a série foi um dos assuntos desse começo de século. Mas acabou mal: tentando se explicar. Na última temporada, poucas cenas são relevantes; grande parte dos capítulos focaram-se nos tais dos "flashsideways", que nada acrescentaram sobre a trama. Episódios completamente desnecessários.
No final, temos uma série ignorante em lidar com suas criações. Personagens que mudavam de personalidades a cada episódio. Lições de moral. E um fim mais próximo do gospel que a Rede Vida poderia se orgulhar.

A audiência concorda com essa decepção: "The End" foi pior que a média da primeira temporada, e até Alf – o E.Teimoso teve uma Series Finale de maior impacto (também, foi uma série que não mudava a personalidade do simpático extraterrestre a cada flashback. :P)

Ps: Publicar qualquer coisa sobre a série meses depois de seu fim parece tão anacrônico quanto comentar o fim de uma novela ruim da Globo, tipo aquelas da seis, uma semana depois de sair do ar.

quinta-feira, maio 13, 2010

Alice no Submundo


Em certo momento do filme, um personagem vira pro outro e fala:
-Cachorros acreditam em qualquer coisa.
Esse comentário não é só pertinente ao animal que acaba de acreditar numa mentira contada, mas também a toda a história que nos é apresentada, sendo nós meros caninos sentados na frente da tela.
Essa mentira, porém, deve ser elaborada, caso contrário não acreditaremos no discurso e as palavras viram motivo de chacota ou, em muitos casos, vergonha alheia.
E ser bem contada não é ter uma "boa equipe", ter "bons” efeitos ou um visual alucinante. O buraco, inclusive o qual a protagonista cai, é mais embaixo.
Somar todos os elementos e fazer com este mundo fique, de fato, maravilhoso, é uma proeza de poucos criadores e de poucas obras; fazer com que entramos nos medos, nas alfinetadas, na fumaça e na garoa, é ainda mais impressionante - e aqui não falo do 3D.

A piada da crença dos cães é um exemplo dos diversos níveis de Alice. Não é de subtramas ou interpretações, mas de como o filme retrata extremo terror de forma lírica e poética. Para a tirania, um comentário sobre comer os filhos de um dos súditos é engraçado, com o humor negro estourando aos olhos. E que Burton é um dos cineastas mais visuais de nosso tempo, aqui não resta dúvida. A tecnologia digital é sem vergonha, experimental e extremante bem definida em efeitos deformativos do corpo e face. O Chapeleiro Maluco tem seus olhos esbugalhados, mas isso não destoa resto do rosto de Johnny Depp, potencializando os devaneios mentais de seu personagem.

A vilã rouba a cena. Helena Bohan Carter é hilária e assustadora em cada aparição. Desde os tiques, passando por sua corte e seu castelo. Um deleite visual cheio de gags cômicas, de pequenas piadas e críticas escondidas a cada frame.
Aliás, Burton consegue uma liberdade com os atores fantástica. E isso permite que seu universo fique ainda mais livre para as investidas e tentativas de seus parceiros de longas datas e projetos.
Uma pena que a trilha de Danny Elfman estivesse baixa demais. A música tema, colocada com os créditos, é uma de suas melhores composições até o momento.

Não é de se estranhar que Tim Burton esteja encabeçando Cannes 2010. O festival tem como premissa encontrar o cinema de autor, e Tim Burton consegue como poucos fazer um filme seu, mesmo sendo o filme do verão, cujas arestas não são apenas cortadas e sim com o corpo inteiro já pré-determinado.
Todos os Tim Burtons são filmes distintos; por mais que reconhecemos temas recorrentes, citações entre as películas e areias das mesmas praias, cada um tem sua individualidade e, ao mesmo tempo, carregam não apenas características, mas sim a essência de seu diretor. E Alice é um belo exemplo dessa capacidade e potencialidade.

quarta-feira, fevereiro 10, 2010

duas de 2009, ou, nunca é tarde para o que é bom

Como o ano ainda não começou (Carnaval não passou), ainda é tempo para as listas de final/começo de ano. Essas foram duas bandas/músicas de 2009 que escutarei em 2010.

Fol Chen, com The Longer U Wait

Descobri Fol Chen entre quando procurava sons novos para minha primeira discotecagem no Wonka. Dezenas de bandas, centenas de músicas e milhões de conceitos ouvi nas semanas que antecederam a estréia na pista. Selecionar aquelas que chamavam atenção já nos primeiros acordes foi bem mais difícil que imaginava. Mas esse instant hit ficou na minha cabeça. E apesar de ter escolhido uma centena de músicas para aquela noite, essa foi a única que voltei a cantar com empolgação e com a certeza de ter a missão de toca-la pelo menos mais uma vez, em qualquer outra possibilidade de soltar som por aí. Enfim, ainda não conheci todo o trabalho dos caras, mas ao ouvir versão original fiquei impressionado. Também cruzei com a bombada Cabe TV, e a igualmente interessante No Wedding Cake.

My First Earthquake, com Cool in the Cool Way

Também apareceu na minha vida quando pescava sons pra Fantástica Fábrica de Djs, projeto do Wonka Bar. Existe todo um subgênero que tenta chamar atenção no meio de litros de novas bandas com nomes bonitinhos, estranhos, extremamente longos ou, no mínimo, curiosos. Independente da originalidade ou da infâmia de alguns casos, My First Earthquake ficou na cabeça por mesclar várias dessas possibilidades nominais. E a música, por motivos óbvios, porque não sou cool nem aqui nem na China! Enquanto que essa por sí só garantiu que essa faixa fosse selecionada para ser tocada nos porões do Bar, minha surpresa foi que na expectativa de gravar um último CD minutos antes de sair de casa para de fato para aquela balada, selecionei outra música da mesma banda, o que duplicou minhas atenções para as garinpagens seguintes. Assumo que não fui muito com a cara do clipe da segunda música Let them eat cake, she says... e sua incompatibilidade com a pista de dança colocou algumas dúvidas sobre a empolgação com eles. Mesmo assim, My First... me faz escrever sobre a banda engraçadinha que consegue ir além do nome e, quiçá, além do ano de sua estréia.