quarta-feira, julho 11, 2007
a tam roubou meu tim
Há 3 semanas não atendo meu telefone. Não por elitismo, por selecionar chamadas ou por revolta ao sistema.
Inicialmente por falta de memória (esqueci o carregador em casa) e alteração na duração da minha última viagem (3 vezes extendida). Alguns dias sem o aparelho não fariam diferença, ainda mais quando estava a aproveitar Sampa para pesquisar novos territórios e distanciar de velhas raizes.
No trajeto de volta, enfrentei o som e fúria do, ainda em voga, apagão áereo. Ao chegar no aeroporto, vi filas, choros, confusões e cenas que já previa; coisa de filme de catástrofe. A média era de 2 horas de atraso para os vôos, sendo que ainda era manhã: tudo indicava que o chá de cadeira seria quente e amargo.
A fila do check-in andou mais rápido que o esperado, e logo fui atendido por um rapaz de feições japonesas e nome impronunciável. De fala rápida e agilidade impressionante, conferiu a documentação e nos garantiu o passe de entrada à aeronave. Perguntou sobre malas a serem despachadas, e logo respondi:
-Nenhuma. Tenho apenas uma mochila, sempre levo na mão.
Como, de fato, sempre levei. Aquela não foi minha primeira viagem aérea, e julguei que as proporções da mala seriam as permitidas (se bem que em outras ocasiões já entrei à bordo com quase meia dúzia de sacolas e apetrechos que ultrapassavam quaisquer limites e tamanhos e nunca fui barrado ou questionado sobre tais pertences).
O atendente nem olhou minha bagagem, e respondeu "mas a mochila tem que ser pesada, pois existe um máximo de cinco quilos por passageiro". Um outro funcionário logo colocou a bendita na balança, e verificou que o peso estava acima do permitido (duzentas gramas acima do dobro, para ser exato).
Rápidos e competentes, encheram de lacres seus zíperes. Rapidamente, despacharam a mala, terminaram os procedimentos de embarque e começaram a chamar o próximo cliente.
Nesta hora não me importei com o aparelho celular, que estava sem carga, inutilizável.
Apesar de todas as expectativas de atraso, o vôo estava com previsão de sair de Congonhas no horário certo. Tanto que nem consegui comer um café-da-manhã improvisado da Casa do Pão de Queijo: tive que sair correndo pelos corredores do aeroporto com o panine e mate na mão, para não ser o motivo de mais um atraso.
Viagem tranqüila num vôo lotado, com direito a cachorro-quente e Xingu. Aterrisamos, peguei a mochila na esteira e fui pra casa.
Minha primeira curiosidade ao chegar lá era carregar a bateria do celular e verificar as ligações perdidas e contatos pendentes. Abri o compartimento onde o aparelho estava, enfiei a mão com toda fé, e ... nada! Restavam os cabos e fones de ouvido guardados pelo ziper. O celular não. Revirei a mochila, na esperança de estar noutro bolso. Nada.
Liguei pro 0800 da companhia aérea: "o senhor tem que fazer a reclamação no balcão do check-out ou através do telefone tal". Por óbvio, o telefone tal não tinha resposta. O jeito era voltar ao aeroporto (o que em Curitiba não é logo alí na esquina).
Fui. Lá dentro, convenci o guardinha que cuidava do pessoal do desembarque de que eu não era um terrorista, e ele me deixou entrar e conversar com as moças do balcão.
-Ah, mas não podemos abrir um protocolo interno, afinal o senhor já saiu do saguão de desembarque. Além disso só abrimos esse protocolo quando a mala estiver com lacre violado e o senhor abrir a mala na nossa frente e se algum bem estiver desaparecido. SE acontecer isso, nós pesamos a mala, e SE tiver uma diferença de 1 quilo, nós abrimos um protocolo interno de investigação.
- Um quilo?!? Que tipo de celular pesa isso?!? - Exclamei, indignado.
Não tive resposta a essa pergunta, apenas um silêncio constrangedor. Insisti na abertura do tal protocolo interno, mas as normas da empresa eram outras. Pedi pela supervisora, que desceu até o check-out, e foi inútil para a resolução do problema; informou que caso passageiro despache algum produto eletrônico ou jóias, deve avisar a companhia aérea na hora do check-in, e deve pagar uma taxa no valor de 10% do valor do bem (!!!), como uma forma de "seguro".
Em suma: se tu despachar uma mala com "pertences valiosos", esses serão roubados. Esse é o pressuposto: inevitavelmente, alguém da empresa ou dos aeroportos vai passar a mão no tel celular, câmera digital, lap top, brincos e anéis. Serás um sortudo se isso não acontecer. E para verificar o crime, deverá abrir a mala assim que desembarcar: no meio do aeroporto, na frente de todo mundo, e na presença de um atendente da companhia. Só se, ainda por cima, o objeto roubado tiver mais de um quilo.
Durante essa conversa, a supervisora insistiu na idéia de que não eram regras únicas de seu empregador: assim ditava a legislação da ANAC, e que, em caso de dúvidas, poderia reportar-me diretamente no guiché da Agência Nacional da Aviação Civil. Eu fui. Um rapaz calmo e atencioso nos atendeu, ofereceu café e confirmou as palavras da atendente e supervisora. Mostrou o texto da lei, e reafirmou que "casos como esse são frequentes".
Esse drama é bem Seinfeld, que inclusive tem um episódio similar: ele suspeita que o cara da lavanderia roubou alguns dólares de uma calça que lavara. Ao questionar sobre o sumido, o atendente mostra uma placa com os dizeres "não nos responsabilizamos por bens deixados dentro dos bolsos das roupas". E Seinfeld afirma:
-Ah, muito simples. Basta colocar uma placa na parede e poderá fazer o que quizer aqui dentro? Pode roubar, bater, matar. Afinal, tem uma placa na parede com as regras desse seu pequeno território particular, um país com suas próprias leis.
No caso do programa de TV, o protagonista não tinha certeza do furto, e fez nada. Mas aqui, sei bem o que aconteceu. Roubo. E por mais que existam algumas regrinhas internas ou escritos de uma Agência Reguladora, nada impede que o crime tenha sido de fato consumado, e que o meliante continua à solta, apropriando-se de bens alheios, e o pior de tudo: com o respaldo e proteção de um companhia áerea e de regrinhas lavo-minha-mão.
Saindo dos escritórios da ANAC, fui até o posto da Polícia, fazer um Boletim de Ocorrência. Não pude: não tinha ninguém na salinha da Polìcia no Afonso Pena.
Passados dois dias, depois de duas viagens à Delegacia de Furtos (na primeira vez estava sem o número de série do brinquedinho roubado), consegui o B.O., e informei minha operadora de celular tudo o que passei. Ficaram de analisar o caso e em 5 dias úteis responder sobre o caso. Para minha surpresa, e de todos que conheço, 2 dias depois, chegou no escritório (plano empresarial) um celular igual ao que foi roubado, novinho, na caixa.
Ufa!
Ontem chegou o chip e voltei a atender o meu número habitual.
A minha briga com a operadora foi amenizada (já perdi alguns dias no telefone por causa de valores indevidos em faturas antigas, celulares incluídos no nosso pacote sem autorização, e cortes do serviço em pleno sábado à noite).
O drama do celular merecia um post exclusivo. Além disso, a novela não chegou ao fim. Apesar de ter um celular doado pela TIM, ainda tem alguém na TAM praticando crimes em outros passageiros. E eles deveram responder judicialmente pela prática de seus funcionários. E com promessa de briga pelas pequenas causas por aí, fim.
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3 comentários:
Caramba: mais um absurdo na terra onde a aviação definitivamente é uma merda. E a única coisa que parece operar bem são os larápios (adoro esta palavra!).
Mas parece que vc está sujeito a uma maldição do aparelho de celular!
opa... é guerra ??!?!?! bola pra frente... alguém tem que dar o primeiro passo!
Pobre André. Mas enquanto roubarem apenas o celular e não sua vida, vc está com muitas milhas de vantagem...
=/
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