terça-feira, janeiro 27, 2009

Maysa é Tim Maia de saias



Enquanto a TV Globo apresentava a minissérie sobre a cantora, eu terminava de ler as últimas palavras da biografia do cantor, escrita por Nelson Motta. E ambas as obras apresentavam mais semelhanças do que diferenças.

São dois resgates de valor histórico cultural incalculável; afinal foram duas personalidades de grandes expressões artísticas em seu tempo, mas cujas trajetórias foram esquecidas por quem viveu e são desconhecidas por quem nasceu depois de suas mortes precoces.

Enquanto figuras, são ótimos temas. Pena que os trabalhos finais ficaram tão rasos.

Nelson Motta, em O Som e a Fúria de Tim Maia, como outros de seus escritos, é um diário pessoal com algumas pesquisas de época. Enquanto exercício de resgate histórico de Motta, nada mais é que um blog de historietas pitorescas publicadas em forma de livro.

No estudo da trajetória da vida do rapaz, não entra em detalhes da carreira, passa em branco durante diversos anos da vida do cantor, e as informações são mais imprecisas que alguns relatórios da ONU. Por exemplo, a repercussão do trabalho de Maia é descrito como: "e a música foi um sucesso!". O que é exatamente um sucesso?

Faltou muito. Só não faltou mais que o próprio Tim Maia por falta de tempo!

Não vi todos os capítulos de Maysa - Quando fala o coração (na verdade vi só os três primeiros blocos do primeiro), mas tive uma noção geral do que se trata a série: moda!

A produção buscou uma reprodução fiel da época. Olhar pra tela é praticamente ver um grande trabalho de resgate histórico... de carros, prédios, acessórios e, claro, roupas. Centrou-se em reproduzir fotografias e transforma-las em imagens em movimento.

Mas pessoas não são planas como fotografias. Muito menos Maysa.
Existe muito mais num olhar. E é nisso, na vida, em que o programa de televisão passa completamente batido.


Existe uma mulher Maysa, que não é um pedaço de pano, e sim um ser intenso, nervoso, explosivo, destrutivo, carismático.

A Maysa da TV tem só um olhar, uma boca (sempre biquinho), uma face. Nada nem próximo do que encontramos nas músicas e vídeos do youtube.

Trata-se de resgate de alguns fatos, mas não da persona, da artista. É um projeto sem nenhuma das características de Maysa. É covarde, simplório, sem sal, tradicional.

Mesmo assim, ainda fico curioso para ver o resto da trama. E quando chegarem os DVDs terminarei de assistir a saga, mais por curiosidade história do que expectativa criativa.